Renda de Bilro – Processo de Confecção
A renda de bilros é produzida pelo cruzamento sucessivo ou entremeado de fios têxteis, executado sobre o pique, fixados às almofadas e com a ajuda de alfinetes e dos bilros. O pique é um cartão, originalmente pintado da cor açafrão para facilitar a visão por parte da rendeira, onde se decalca um desenho, feito por especialistas ou copiados entre as rendeiras, sendo atualmente retirados também de sites da internet.
Os bilros são pêndulos torneados ou feitos com coquinhos e cabinhos de madeira que, pendurados às linhas, mantém as mesmas esticadas e facilitam o trançar dos fios. Na Barra do Jucu as almofadas são cilíndricas, feitas com palhas secas de bananeiras e forradas com pano de algodão. Em alguns lugares fora da Barra do Jucu, utilizam-se também almofadas redondas ou em forma de pranchas acolchoadas.
A almofada fica sobre um suporte, geralmente de madeira, que permite que os bilros fiquem à frente e à altura das mãos das rendeiras. Na Barra do Jucu as mulheres trabalhavam com a almofada apoiada em uma cadeira, no chão ou em sofás ou camas. Hoje, as alunas das oficinas trabalham com um cavalete de madeira, ajustável à altura das rendeiras, desenvolvido para esse fim.
Na almofada, é colocado um cartão perfurado, o pique, onde se encontra o desenho da renda, feito com pequenos furos. Nos furos do desenho, a rendeira espeta alfinetes onde são penduradas as linhas presas aos bilros (sempre trabalhados aos pares) para inicio dos trabalhos. À medida que os fios são trançados, novos alfinetes são colocados e nós são dados ao redor dos mesmos. Quando o trabalho chega ao fim do pique, a renda é amarrada, retirada da almofada e erguida para ser recomeçada, no início do mesmo pique. Atualmente, algumas rendeiras do Museu Vivo da Barra do Jucu, trabalham com dois piques iguais que se sucedem ao fim de cada um deles sobre a almofada para não mais ser necessário “erguer a renda”.
Os fios são manejados por meio de pequenas peças geralmente de madeira torneada, de sementes ou de outros materiais, como o osso, os bilros ou birros. Os bilros são manejados aos pares pela rendeira que imprime um movimento rotativo e alternado a cada um, orientando-se pelos alfinetes. O número de bilros utilizado varia conforme a complexidade do desenho. Usa-se também o encosto, um espeto alto feito de espinho de laranjeira ou material metálico perfurante que serve para descansar os bilros que estão aguardando seu manuseio na renda que se está fazendo.
Na Barra do Jucu, os principais produtos resultantes das rendas de bilro eram as rendas de metro, os bicos, entremeios, palinhas de camisola, aplicações para lençóis, toalhas e enxovais de noivas e de bebês.
Materiais utilizados na produção da renda
Na Barra do Jucu, para a confecção das rendas de bilro são utilizados os seguintes objetos:
- Almofada Cilíndrica – Recheadas com folha de bananeira, coberta com sacos de estopa ou pano de saco, fechadas com cordão grosso e agulha de pilombá e coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino, geralmente estampado e de algodão. As dimensões dependem do tamanho da peça a realizar, mas, normalmente, possuem cerca de 40 cm de diâmetro por 50 cm de altura.
- Pique – É um cartão perfurado onde se encontra o desenho da renda decalcado, impresso pela internet ou, como antigamente, copiado de outra rendeira.
- Bilros – São confeccionados com algumas espécies nativas de coquinhos encontrados nas matas da região e seus cabinhos esculpidos em madeira, normalmente o camará. Sendo assim, uma das extremidades dos bilros tem a forma de pera ou esfera, que servem de peso e na outra extremidade, as linhas ficam enroladas, sendo aparadas por um relevo na madeira que impedem os fios de se desenrolar e soltar dos bilros. No Museu Vivo da Barra do Jucu, foram feitos também bilros de miçangas de madeira e toquinhos cilíndricos encontrados no mercado, como forma de se continuar o oficio mesmo com a escassez da matéria-prima original. Para facilitar o trabalho e baratear o custo, os cabinhos dos bilros estão sendo feitos com palitos de churrasco de bambu esculpidos com uma conta de madeira ou bolinha de massa para aparar as linhas.
- Encosto – É um espeto medindo cerca de 20 cm feito de material metálico perfurante com uma miçanga ao fim, que serve para descansar os bilros que estão aguardando seu manuseio na renda que está sendo feita.
- Linhas – É usada a linha Singer (linha 30, 40 e 50), normalmente muito fina e uma mais grossa, também de algodão, chamada Manchete. Atualmente se trabalha com linha Clea, Corrente, Anne e Esterlina nas espessuras 8, 10 e 22, de todas as cores ou matizadas.
- Alfinetes – De costura metálicos com ou sem cabecinhas coloridas.
- Cavaletes – Suporte ergonômico desenvolvido para apoiar a almofada de rendas de bilro durante a confecção das rendas. Feito em madeira por marceneiro é dobrável para facilitar o transporte e ajustável para se adequar ao tamanho da rendeira.
Expressões orais usuais entre rendeiras
As rendas de bilro eram feitas em meio a muita conversa, sendo que algumas cantarolavam marchinhas de carnaval e a música Mulher Rendeira. Algumas palavras não muito usuais são comuns ao vocabulário das rendeiras como:
- Agulha de pilombá – agulha curva e grossa própria para costurar a boca do saco de estopa com o qual era feita a almofada;
- Cochar – ato de torcer as linhas presas aos bilros;
- Mataxim, Aranha e Costela de Sapo – Nomes de alguns tipos de trançados feitos nas rendas de bilros.
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