Renda de Bilro – História
Originária da Europa, encontram-se os primeiros relatos da renda de bilros entre os Belgas, onde ela se tornou uma indústria importante, e também em Portugal, na Espanha, na França e Itália.
Trazida para o Brasil pelos portugueses, o sul do país é um dos primeiros centros ‘receptores’ da renda de bilros devido à imigração açoriana naquela região. No nordeste, como a influência holandesa na região desde o século XVII, também a confecciona. Assim, a renda de bilros está presente em alguns estados brasileiros, principalmente na região litorânea.
No Espirito Santo a renda de bilro era confeccionada em Conceição da Barra, São Mateus, Colatina e principalmente em Guarapari, no balneário de Meaipe onde se criou a Casa da Rendeira. Na Barra do Jucu, desde o início do século passado registra-se o ofício, sendo que algumas rendeiras, hoje na faixa dos 80 a 90 anos, ainda estão vivas. As rendas representavam a principal fonte de renda das mulheres da localidade e com o fruto desse trabalho, ajudavam seus pais e maridos no sustento de suas famílias, sempre muito numerosas.
Há relatos de homens na comunidade que também faziam rendas para somar á produção de suas mães. Quanto maior a habilidade da rendeira, maior o respeito que esta tinha no grupo. Muitas faziam rendas para suas famílias ou seus enxovais. Os homens se dedicavam prioritariamente à pesca artesanal, às pequenas lavouras e à extração artesanal de madeiras e areia do rio. Com o advento da produção de rendas industriais e a desvalorização dos trabalhos manuais, as rendeiras da Barra do Jucu, há aproximadamente 50 anos, foram deixando de lado o ofício. Saiba mais sobre a renda de bilro aqui.
Na foto acima, d. Bernardina Vieira Machado, a primeira rendeira da Barra do Jucu.
Debaixo de árvores ou nas varandas, as mulheres se reuniam para tecer e contar causos.
Não se sabe ao certo quando a renda de bilros foi introduzida na Barra do Jucu e quem trouxe o oficio para a localidade. Imagina-se que tenha sido D. Bernardina Vieira Machado, nascida em 1887, a mais antiga rendeira que se tem notícia nessa terra. Segundo D. Enedina França de Paiva, a única rendeira que permaneceu fazendo renda até a atualidade, o período que mais se produziu renda de bilro na Barra do Jucu foi de 1930 a 1960. De acordo com as rendeiras remanescentes, enquanto os homens passavam longos períodos na atividade da pesca, com redes artesanais, e na função de pequenos agricultores rurais, as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro.
Além de ajudar no orçamento familiar, o trabalho reunia as mulheres em grupos. Sentadas em cadeiras embaixo da sombra de grandes árvores, teciam as rendas ao mesmo tempo em que conversavam. O local escolhido pelas rendeiras era uma árvore ao lado da Igreja Nossa Senhora da Gloria e as varandas das casas, onde passavam longas tardes tecendo rendas, conversando e colocando piques umas para as outras. As novas rendeiras eram iniciadas no oficio por volta dos 11 anos. E assim a tradição era passada entre amigas e de mães para filhas.
As rendas produzidas na Barra do Jucu eram comercializadas em Vila Velha e Vitória quando os pais, maridos ou irmãos iam levar os peixes, feixes de lenha e produtos da agricultura familiar para vender. Junto ia, em envelopes ou caixinhas de sapatos, as rendas produzidas no vilarejo, sempre muito limpas e engomadas. Eram rendas valiosas e reconhecidas como de especial qualidade, por isso as freguesas também vinham comprar ou encomendar rendas na Vila.
O fruto dessas vendas era, vez ou outra, utilizado para compra de roupas ou algum enfeite para as rendeiras jovens, solteiras e vaidosas. Mas, na maioria das vezes, era administrado pelas rendeiras, mães de famílias numerosas que comentam que “era com esse dinheiro que vestiam e calçavam as crianças”. Saiba mais sobre a confecção das rendas de bilro e as ferramentas utilizadas aqui.
Nossas rendeiras
As principais rendeiras da Barra do Jucu: D. Bernardina Vieira Machado, D. Davina França de Paiva, D. Maria de Paiva Rocha, D. Enedina França de Paiva, D. Ester Vieira dos Santos, D. Doracy Vieira Gervasio, D. Liceria Bianco Valadares (Mariquinha), D. Maria da Penha Leão, D. Emilinha Barcelos, D. Menininha Coutinho, D. Izaura Carvalho, D. Anisia Abreu, D. Carmelita Calazans, D. Paulita, D. Rosa Leão Malta, D. Genedi Vieira, D. Mariones Regis dos Santos e D. Zuzu, dentre outras.
Hoje compõe a oficina de Rendas de Bilro como instrutora Rosa Leão Malta. Atua como colaboradora, indo auxiliar na colocação e ensinamento de algum pique novo, D. Enedina França de Paiva, e como coordenadora Regina Maria Ruschi. Como alunas estão presentes desde abril de 2016, Julia Ferreira de Paiva, Rosiane Maria Biet, Pamella Biet da Silva, Regina Maria Ruschi, Giza Guimarães Ruschi, Tulipa Cabral e Ita Flavia de Sousa. Da turma que ingressou em 2017 continuam na oficina de rendas de bilro Selene Guimarães, Mariza Vieira Gervasio, Deuseluci Mary de Paula Bravin, Celia Sampaio, Jandira Rosa Miranda e Jurema da Costa Valadares.
Veja aqui fotos da rendeiras e das renda de bilro da Barra do Jucu.
Conheça aqui o processo de confecção das rendas de bilro e as ferramentas utilizadas.