História do Congo na Barra do Jucu

Ajuda eu tambor
Ajuda eu cantar
A meia noite eu vou embora
Tambor de Minas
Faz divisão com Carangola

Jongo cantando pelas bandas de congo da Barra do Jucu

A história do Congo na Barra do Jucu se divide em três momentos:

Antes de existir uma Banda de Congo na Barra do Jucu, há muito tempo, a comunidade já conhecia o Congo e tinha moradores participando de bandas de outros lugares, pois as bandas das comunidades ribeirinhas, de vez em quando, vinham tocar na Barra em festas e aniversários (sobretudo as bandas de Itapuera, Jaguaruçu e Caçaroca).

O surgimento da primeira banda de congo na Barra acontece no início dos anos 50, com a vinda de Manoel Nunes, de Palmeiras (Morro do Monos, interior de Guarapari) para a Barra do Jucu, trazendo quatro tambores. Ele era pai de Pedrinho e tio de Paulo Nunes, hoje conguistas. Depois da sua morte, Maria Luíza Valadares tomou conta dos tambores por alguns anos, até se casar. Seu marido não gostava do Congo e ela parou com a banda em meados dos anos 70. Saiba mais sobre as origens e significados do congo.

O segundo momento se dá com a mudança de Seu Alcides, de Jaguaruçu para a Barra do Jucu. Ele vem com dois tambores em 1968, e se une a Seu Justino, também ex-morador de Jaguaruçu. Com apoio de Dr. Américo, então em seu primeiro mandato na Prefeitura de Vila Velha, eles buscaram os tambores que estavam ainda na casa de Maria Luísa e formaram uma Banda de Congo, que tinha como componentes Seu Honório, Ozório, Avigêncio, Hildelbrando, Zé Silva, Daniel, Antônio Biju, João Amaral, Sebastião Maria, Júlio Valadares, Seu Delcy, Haroldo, Giovani, Honofre, João Bagaceira, João Bina, entre outros. Seu Alcides foi um homem de suma importância; foi um dos pioneiros e mantenedores do Congo na Barra do Jucu, dos anos 60 aos 90.

Seu Honório também foi muito importante para o Congo. Era barqueiro do Jucu, exímio pescador, previa as coisas, era um grande conhecedor das plantas medicinais, uma espécie de curandeiro local. Tinha grande conhecimento dos ritmos do Congo e das formas de fazer os instrumentos. Lá de Itapuera, só de ouvir, sabia quem estava e quem não estava tocando Congo aqui na Barra (pois cada conguista tinha um jeito de tocar). Não deixava fazer pot-pourri de músicas, incentivava a variação de ritmos e proibia os jongos que tivessem ligação com pontos de Macumba. Dava a vez para tocar, de preferência, aos mais experientes e exigia sobriedade. Era um grande mestre; vários entrevistados o apontaram como difícil de ser superado. Mestre Honório de Oliveira Amorim, junto com o Presidente Alcides Gomes da Silva, eram a alma da banda: o maestro e o diplomata. Não admitiam conguistas sem camisa e exigiam respeito para com as damas e os mais velhos. Os dois já falecidos, o primeiro em 1993, aos 78 anos, e o segundo aos 94 anos, em 1990.

Mestre Alcides (na esquerda), ao lado de Mestre Honório (direita).

No princípio existia apenas uma Banda de Congo na Barra do Jucu, a única até 1990. Foi a primeira entidade da Barra a ser registrada em cartório, por iniciativa de Geraldo Pignaton, que redigiu seus estatutos (modelo adotado por todas as demais Bandas de Congo do Estado) no final da década de 1970.

Kleber Galvêas, antigo frequentador da Barra, veio morar aqui em 1974, passando a participar da banda tocando chocalho. A seu convite, Geraldo Pignaton entrou para o congo. Nos anos 80 Seu Alcides, que passava por grandes dificuldades financeiras, havia se ligado a uma igreja evangélica instalada ao lado de sua casa. Pressionado pelo pastor, decidiu vender os instrumentos do Congo. Geraldo, médico, a pedido de Seu Honório e por sugestão de Kleber, sabedor dos preconceitos que a Banda de Congo sofria, comprou-a, para não ser vendida separadamente para pessoas de fora, como souvenir. Seria o fim da banda na Barra. Geraldo não tendo lugar na Barra para guardar os tambores, e como ninguém o quis fazer, levou-os para a Fazenda Camping, que era de seu pai. Ai começa o terceiro momento do Congo da Barra. Passou a levar os conguistas, regularmente, inclusive Seu Alcides, para tocar na fazenda.

Organizou a banda, formalizou os cargos, dividiu as funções e transformou a banda num grupo organizado, ampliando o número de conguistas e, sobretudo, aliou o Congo com o movimento estudantil de resistência da UFES. Prometeu ainda que o congo voltaria para a Barra e “por cima”, quando os barrenses aprendessem a dar valor ao que desprezavam. Seus irmãos Eduardo (Dunga) e Fernando o apoiaram nesse propósito.

Nessa época, início da década de 80, além de alguns dos conguistas citados anteriormente, entrou em cena uma cova geração, composta por Bochecha, Chumbinho e Jadir (filhos de Paulo Nunes), Rose, Toninho e Zé Luiz (filhos de Alvino) que substituíram à altura os que iam morrendo, dando sangue novo à banda.

A banda começa a viajar pelo Brasil a ser notícia em rede nacional; é convidada a tocar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi a primeira manifestação folclórica nacional a se apresentar lá, em 185 anos da história do teatro. Apresenta-se também no Circo Voador e nas Universidades Gama Filho, Estácio e UFRJ. Em 1988 tivemos a visita do famoso cantor Martinho da Vila, grande admirador do folclore nacional e pesquisador, que se apaixonou pelo congo e seus jongos, e posteriormente, gravou um disco, divulgando assim o Congo no Brasil e no exterior, com grande sucesso, principalmente da música Madalena. Levou a Banda de Congo para tocar no Rio algumas vezes, nos lugares acima citados e em outros. Isso tudo durante o período em que a banda esteve sob a coordenação de Geraldo Pignaton. Essa grande repercussão motivou divergências internas na Banda de Congo. Decepcionado, Geraldo afastou-se da direção. Dessa dissidência resultou a formação, em 1990, da segunda Banda, denominada Banda de Congo Mestre Alcides, em homenagem ao mestre falecido naquele ano. Apesar das confusões daí geradas, após e durante essa divulgação massiva, o povo da Barra começou a reclamar a volta do Congo, e isso aos poucos foi acontecendo. Os que ainda eram contra, tiveram que suportar a banda, que realmente voltou por cima, em alto nível, como havia prometido Geraldo. Ser conguista, agora, dava status; transformara-se em marca da identidade cultural barrense. Isso aconteceu nos finais dos anos 80 e início dos 90.

Então a banda atingiu um grau de importância que nunca havia alcançado antes, influenciando o surgimento de outras bandas, em outros lugares e o fortalecimento dessa manifestação cultural em todo nosso Estado. O vídeo abaixo é um documentário de Ricardo Sá que conta um pouco da história do envolvimento de Martinho da Vila com a Banda de Congo da Barra do Jucu.

A primeira banda registrada sob o nome de “Banda de Congo da Barra do Jucu”, passou a chamar-se popularmente Banda Mestre Honório, após a morte deste em 1993, em reconhecimento a sua atuação como grande mestre. Essa banda, a do “Mestre Honório”, então sob a gestão de Beto Pego e Cíntia, lançou um CD só com músicas da Banda de Congo em 1999. Foi com orgulho que os moradores e amigos da Barra comemoraram o lançamento do CD. Foi o primeiro de uma Banda de Congo, gravado no Espírito Santo, inserindo o nosso folclore no mercado fonográfico local e divulgando ainda mais essa manifestação cultural.

A falta de entendimento quanto à prestação de contas na contabilidade interna e do recurso obtido com a venda do CD provocou mais um conflito e a saída de Beto e seus seguidores que formaram uma terceira banda, a banda Tambores de Jacaranema, em 2000.

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