Dona Rosinha
Nascida e criada na Barra do jucu, em Vila Velha, D. Rosinha, como é conhecida Rosa Leão Malta, filha de Luiza Bianco leão e de Reginaldo Dos Santos leão. Casou-se com Alarico Araujo Malta com quem teve oito filhos. Aprendeu a fazer rendas com as rendeiras mais velhas da barra, especialmente com D. Davina, quando tinha apenas 11 anos. Era com essa idade que as meninas da Vila costumavam aprender a fazer rendas para ajudar na renda familiar. Em sua casa, a irmã dela Liceria Bianco Valadares, D. mariquinha, era também uma exímia rendeira.
A principio, D. Rosinha e D. Mariquinha faziam rendas para ajudar à mãe a comprar roupas e sapatos para os filhos. Quando mocinha, vaidosa que era, D. Rosinha mesmo comprava com seu dinheiro, seus objetos pessoais.
Depois de casada, fez rendas por cerca de 30 anos para ajudar no sustento de sua família, principalmente para comprar roupas e sapatos para seus filhos. As histórias das rendeiras da Barra são muito parecidas. Quase todas ajudavam com suas rendas a complementar a renda familiar uma vez que seus pais ou maridos eram quase sempre pescadores ou pequenos agricultores. Uma diferença na história da d. Rosinha e de D. Mariquinha é que sua mãe não era rendeira e que elas também não conseguiram passar esta tradição para nenhuma de suas filhas. Quando suas filhas nasceram, as rendas de bilro já não tinham muito valor comercial e por isso, as mulheres do vilarejo perderam o incentivo para produzi-las.
As rendas de bilro eram confeccionadas antigamente nas casas de quase todas as mulheres da comunidade da Barra do Jucu. Relatos dos antigos moradores mencionam que ao passar em frente às casas da Vila, ouviam-se o bater dos bilros em quase todas elas. Era comum também juntar as amigas em salas ou varandas das casas para trocar piques e prozear enquanto faziam rendas. Faziam rendas também em baixo de uma árvore que ficava em frente á Igreja Nossa Senhora da Gloria. Fazer rendas era um oficio que exigia muito tempo e dedicação e as mulheres, que cuidavam também dos filhos e demais afazeres domésticos, trabalhavam até tarde, com velas ou lamparinas apoiadas às almofadas para garantir uma maior produção.
As rendas produzidas eram vendidas por seus filhos ou maridos em suas idas a Vila Velha ou Vitória para venda dos peixes ou produtos da agricultura de subsistência frutos do trabalho dos mesmos. Muitas freguesas vinham também à Vila, encomendar ou comprar as famosas rendas da barra do Jucu.
Com o advento da industrialização e da produção de alta escala feitas com máquinas, as rendas industriais substituíram as rendas artesanais por causa do baixo custo e do volume de produção. Assim, com a desvalorização dos trabalhos manuais, foi inevitável a extinção deste oficio e as rendeiras da Barra do Jucu, há aproximadamente 50 anos, foram parando de fazer suas rendas por falta de mercado. Esse prejuízo foi enorme economicamente, para a autoestima das mulheres barrenses; para o turismo da Barra que já tinha em suas rendeiras um elemento da paisagem local e uma característica do bucolismo da Vila e; para as relações pessoais entre as mulheres da comunidade que eram alimentadas por aqueles encontros diários relacionados ao oficio.
Após um lapso de 50 anos de praticamente extinção da produção de rendas na Barra do Jucu, em 2015, como única rendeira, D. Rosinha, de 85 anos à época, se dispôs a retomar seus bilros, refazer a almofada e ajudar ao Museu Vivo da Barra do Jucu a resgatar esta tradição.
Ensinou aos membros do Museu a fazer as almofadas e a fazer os bilros para que se começassem em início de 2016 as oficinas de Rendas de Bilro.
Dona Rosinha ensinando como se faziam as almofadas de rendas de bilro, explicou que as palhas das bananeiras para se fazer as almofadas deveriam ser retiradas já secas do pé, que as almofadas deveriam ser costuradas com agulha de pilombar e que os bilros tinham que ter uma forma e um peso ideal para o oficio. Foi um longo aprendizado até chegar aos materiais adequados.
Cumpre acrescentar que as demais rendeiras da barra, todas com idade acima dos 80 anos e descrentes da possibilidade do resgate das rendas, não tiveram mais disposição para ensinar. No entanto, a partir dessa iniciativa, uma rendeira que ainda produzia um pouquinho de renda por prazer somente para sua casa, voltou a fazer rendas comercialmente.