Congo – Origens e Significados

Chora neném
O neném de mim tem dó.
Eu não posso esquecer (chora neném)
O canto do rouxinol (deixa chorar).

Tem areia, tem areia
Tem areia eu não vou lá.
No lugar que tem areia (chora neném)
Meu amor quer me matar (deixa chorar).

Vinte e cinco de maio
é um dia muito bonito
A congada se reúne (chora nenem)
prá louvar São Benedito (deixa chorar)

Jongo cantando pelas bandas de congo da Barra do Jucu

O Congo é resultante, segundo o professor Guilherme Santos Neves, da mistura entre brancos, negros e índios. Ele dá o pioneirismo aos índios, que há muitos séculos já batiam seus guararás (tambores), esfregavam suas casacas (reco-reco de bambu vestindo casaca de madeira com cabeça antropomórfica, típica do Espírito Santo) e agitavam suas maracás (chocalhos). Depois começam a receber a influência dos negros na designação dos instrumentos, no ritmo, na dança, no nome da manifestação, na inclusão de novos instrumentos como a cuíca. O português também influi através da religiosidade católica, encenações e na forma de dançar, além da própria língua e forma dos versos cantados nos jongos. Saiba mais sobre a história do congo.

Geraldo Pignaton destaca para nós que o congo se estruturou onde os jesuítas estiveram presentes, que logo identificaram nele um poderoso instrumento de catequese. Nos aldeamentos e fazendas conviviam, em maior ou menor grau de amizade ou proximidade, negros, índios e portugueses, todos com o seu lugar social preestabelecido. Daí deve ter surgido o congo, nas reduções jesuíticas. O padre Anchieta o utilizava em suas peças de teatro. Podemos notar que muitos jongos (músicas do Congo) falam de santos da igreja Católica. Os negros, como escravos, os índios como almas a serem salvas, e caçadores de escravos fugidos e os portugueses, coordenando o sistema com mão de ferro e com o coração cheio de amor para dar.

Também segundo Geraldo, o congo da Barra é formado por pessoas que vieram de várias bandas diferentes, que se extinguiram. Cada banda tem a sua batida, dependendo da composição étnica da localidade, mais índios ou mais negros. Estas pessoas que iam saindo de lugares como Jaguaruçu, Itapuera, Palmeiras, Aribiri, Jabaeté, Camboapina, Una, Ponta da Fruta, Caçaroca, entre outras, formam, na Barra do Jucu, uma banda eclética, com grande variação de batidas, diferentes entre si; com jongos mais rápidos. Tendo catalisado o ritmo e a batida de várias bandas da região, apresenta uma enorme riqueza melódica, não encontrada em nenhuma outra Banda de Congo. Isto é comprovado pela proibição peremptória de se “virar jongo” (emendar um jongo no outro, sem fazer a parada).

O congo, que ganhou notoriedade internacional, é uma manifestação que tem, como fundamento, a capacidade de ser muito espontânea. Narra as tradições, os costumes do cotidiano local do seu povo, as coisas que acontecem no dia a dia da comunidade, servindo como verdadeiro jornalismo cantado. Fala das pescarias, fatos curiosos, caçadas, aventuras, amores, desilusões, reclamações locais, entre outras questões. A capacidade de improvisação de versos destes homens é grande. “Eles ficavam o dia todo no mar, pescando; na mata, caçando ou fazendo lenha e no rio, navegando, remando e pensando nos acontecimentos; preparando novos versos para a próxima congada.”

O Congo sempre foi muito mais que uma diversão, uma reunião social ou religiosa. Servia, como já foi dito, de jornal cantado, improvisado do local, como forma de reclamar e de fomentar revoltas e realizar conquistas afetivas e amorosas. Com o tempo os temas passaram a ser também nacionais e internacionais. Exemplos: na luta por eleições diretas (início de 1984) a Banda de Congo foi a única instituição a sair às ruas, junto com o pessoal de teatro, puxando o movimento com um jongo composto para a ocasião. O mesmo se repetiu no advento da Nova República. Alguns jongos (músicas do Congo) mantêm essa característica até hoje.

Mais sobre o Congo no site do Ponto de Memória: