Castelo da Barra

 

 

Um lugar cheio de histórias, lendas, que em cada canto ou esquina guarda surpresas e revelações! Assim é a Barra do Jucu: mágica, uma terra cheia de sonhos onde não poderia faltar um castelo com torres, passagens subterrâneas, soldados medievais, brasão e fantasias que mexem com a imaginação de crianças e adultos. É o Castelo da Barra, localizado de frente para o mar, numa comunhão de energias e mistérios.

Duas décadas de trabalho para erguer um castelo

Já são vinte anos de luta para erguer o Castelo da Barra. Pode parecer muito tempo, mas quando tudo, dos pequenos detalhes ao trabalho pesado, é feito pelas mãos de um único homem, que ainda trabalha formalmente durante o dia, esse tempo não é tão grande. É assim que o mineiro Mauro Lima de Rezende, de 60 anos, está erguendo o seu castelo.

Mauro escavando para fazer os túneis subterrâneos do Castelo

 

E se visto de fora o castelo chama a atenção, por dentro ele guarda surpresas que tiram o fôlego das poucas pessoas que até hoje tiveram o privilégio de adentrar seus portões e conhecer seus mistérios, com um acervo de peças raras, dignos das telas de cinema. São ambientes que retratam principalmente períodos cruéis da história, como a inquisição, a escravidão e a tortura militar. Um trabalho autodidata realizado por Mauro Rezende que vai dando asas à imaginação e aos sonhos.

“Não pesquiso em internet e em nada. Tudo é fruto da minha imaginação, de estudar e buscar a melhor maneira de aproveitar os materiais e recriar peças e ambientes de um tempo da história”. Mauro Rezende

Tudo é feito pessoalmente por Mauro, desde a obra de construção até todas as peças que decoram o Castelo, como os soldados medievais, canhões, estátuas, móveis de época. Parte dos materiais que utiliza são encontrados na rua e restaurados, e assim o sonho vai ganhando forma, se agigantando e se tornando realidade no horizonte da Barra do Jucu.

Parte do jardim, um dos poucos detalhes que Mauro permite que seja registrado dentro do Castelo.

 

Abertura ao público

O criador do Castelo da Barra diz que não tem data para abrir sua obra à visitação pública: “Só vou fazer quando tiver condições concretas para isso. Não sei quanto tempo vai demorar ainda. Mas adianto que serão visitas guiadas, com poucas pessoas, para que elas possam ter a sensação real dos momentos que recriei na minha obra”. Não tenho data, não tenho pressa”.

Por trás das muralhas.

 

Mauro Lima de Resende, um construtor, um artista, um sonhador…

“A cada pedra, ergo meu castelo”. Mauro de Lima Resende

A história de Mauro Lima de Resende pode se parecer com a de muitas pessoas pobres, que saem de sua terra natal e viajam em busca de uma vida nova. Mas a sua determinação e capacidade de criação o fizeram dono de um castelo, mesmo não sendo rei. “Não quero ser chamado de rei, mas reconhecido como uma pessoa que lutou pelo lugar onde vive, que acreditou e fez uma coisa diferente. Sou apenas o guardião do meu castelo”, diz.

Mauro nasceu na cidade de Ponte Nova, em Minas Gerais, de onde saiu depois de servir ao exército em pleno regime militar no Brasil. Desiludido com o tratamento desumano que recebeu na corporação, ele desertou e viajou pelo Brasil, de carona, em busca de um lugar bonito para viver. Escondido num vagão do trem de minério, ele e um amigo chegaram ao Espírito Santo há 40 anos.

Eles desceram do trem em Flexal, Cariacica. Foram até porto de Santana e pegaram uma balsa da Condusa até a Prainha, em Vila Velha. O relento da pracinha foi a moradia deles por vários dias, dormiam dentro de um barco, mas o amigo não aguentou e foi embora.  Mauro contou com a solidariedade de um professor que o levou para morar em sua quitinete.

Tempos depois, parte da família, incluindo os pais, também veio para o Espírito Santo e Mauro enfim achou o lugar bonito que procurava para viver: a Barra do Jucu. Para sobreviver, vendia e trocava revistinhas educativas e assim foi construindo sua vida. Se casou, teve três filhos.

Aqui, Mauro montou a padaria Casa do Pão, na rua Vasco Coutinho. E trocou a casa que tinha no bairro Santa Mônica, Vila Velha, pelo terreno onde ergueu seu castelo. Nesse tempo Mauro já “juntava” muitas coisas que hoje ganham vida e personalidade em seu castelo. No novo terreno, a primeira coisa que Mauro construiu foi uma escada e, debaixo dela, morou com a família por muito tempo. Eram os primeiros passos do que hoje se tornou o Castelo da Barra.

A obra vai ganhando contornos.

 

Ele explica que construir o castelo não era um sonho, mas que deixou sua imaginação fluir e foi construindo, recriando histórias e se atentando aos detalhes, como um mosaico que vai se montando pouco a pouco. O gosto por criar e montar coisas sempre esteve presente e a primeira criação de Mauro foi um carro que levou sete anos para ficar pronto. “Levei muito tempo para fazer, mas terminei e o carro funcionou muito bem. Eu e minha mulher fomos passear em Belo Horizonte (MG) nele”.

O artista diz que tudo que tem no castelo é original, fruto de sua imaginação. “Não copio nada, crio. Desde as esculturas de cavaleiros templários, animais, canhões, até a arquitetura, tudo eu faço a partir da minha imaginação”.

Mauro não sabe também qual o tamanho nem quanto já investiu na sua criação. Ele trabalha na sua obra nas horas vagas, finais de semana e principalmente à noite, indo dormir apenas de madrugada. Só aceita ajuda de outras pessoas para o trabalho mais pesado.

 

Legado educativo e cultural

Enquanto vai construindo seu castelo e organizando seu acervo de peças raras, muitas fabricadas por ele próprio, o ‘guardião do castelo’ diz que não se preocupa com valores econômicos, mas com o legado educativo e cultural de sua obra. A bandeira preta hasteada no alto do castelo também é um protesto contra as atrocidades que acontecem pelo mundo, como a violência e a corrupção.

“Eu quero que, quando uma escola trouxer seus alunos aqui, eles saibam que muitas lutas já foram travadas, e muitas coisas ruins não podem voltar a acontecer, por isso recrio ambientes de tortura, de sofrimento”.

 

Uma obra que nunca termina

Ao lado do castelo Mauro dá seguimento à sua obra recriando uma vila medieval, onde será a porta de entrada para as visitas à parte interna do castelo. Neste espaço também será montado um pequeno stand de vendas de produtos personalizados do castelo, uma forma de levantar recursos para sua manutenção. “Será sempre uma obra inacabada. Só terminará quando eu terminar”, relata.

Obra sempre em construção.

 

Personagens do carnaval e atos realizados na Barra do Jucu

Mauro transporta também sua criatividade para além das muralhas de seu Castelo. Quase todos os anos, ele e sua família desfilam no carnaval da Barra do Jucu com fantasias originais, criadas por ele próprio. A família participa também de atos realizados pela comunidade, principalmente protestos contra o descaso com o Rio Jucu e a Reserva de Jacarenema, sempre com fantasias que falam por si só. São vampiros, bruxas, caveiras e caixões que despertam a atenção e a curiosidade do público.

Mauro e família no protesto “Enterro do Rio Jucu”

Uma praça para preservar a vida

A preocupação de Mauro e sua família com a preservação dos recursos ambientais da comunidade também é grande. Desde 2001 ele vem cuidando e mantendo um espaço em frente ao castelo, e o transformou em uma pracinha. O local, com vegetação de restinga, importante para a preservação da faixa até o mar, estava sendo ocupado por uma construção irregular. A prefeitura municipal impediu a obra e desde então Mauro cuida do local, que agora é um caminho de acesso para a praia, o Portal da Barra.

Portal da Barra, em frente ao Castelo.