Bloco dos Mascarados – Preparação, costumes e alegorias
Monstros e lendas ganham contornos reais no carnaval.
A Barra do Jucu sempre foi cercada de matas, brejos, lagoas, mangues, rios e mar, o que torna forte a ligação entre homem e natureza. Quando não havia estradas e nem energia elétrica, e a principal via de comunicação com a cidade era o Rio Jucu, as pessoas se reuniam em volta das fogueiras, principalmente no início da noite, para contar histórias sobre monstros e lendas da região. No carnaval, os mascarados buscavam representar esses “bichos papões” do imaginário popular local nas máscaras e no comportamento.
Nesse costume, os adultos impedem as crianças de participar junto como mascarados, por diversos motivos. Com isso, as crianças que não podem sair com os adultos, saem às ruas no dia do desfile para implicar com os mascarados, que perseguem essas crianças. Com isso, a brincadeira tem tons de rito de passagem, com a criança enfrentando o monstro, e virando o próprio monstro para perseguir outras crianças à medida que cresce.
Mascarado, pé de pato, comedor de carrapato!
Cântico comum das crianças do bairro para ‘implicar’ com os mascarados durante o desfile
Além do mais, o ato de se mascarar para o adulto é pura diversão e todo o contexto da brincadeira provoca uma mudança no comportamento de quem se mascara, que assume atitudes pueris e gaiatas. Divertindo-se e entretendo os foliões com as brincadeiras e o anonimato, gerando curiosidade na plateia que quer descobrir quem são os mascarados.
Parte da brincadeira é tentar descobrir quem está por trás das máscaras. Foto: autor desconhecido.
Os precursores do bloco
Fica difícil mencionar todos os participantes que já brincaram e brincam nessa celebração. Os primeiros mascarados foram moradores da comunidade como Alarico, Alberto, Alvino, Antônio Leão, Esmerino Laranja, Giovani, Paulo Nunes, Vicente, Haroldo Vieira, Máximo Araújo e Oscar Valadares. Na vaquinha, saíram Dionísio, Haroldo Vieira, Joel Leão (Joel 40), Andrade (Perereca), Rodrigo Rodrigues e Jean Ribeiro. Na mulinha, Oscar Valadares, Valter Vieira (Balunga), Jaime (feijão-tropeiro) e Gerson Vieira. Saiba mais sobre a história do Bloco dos Mascarados.
Hoje em dia uma nova geração de brincantes organiza a celebração: Rodrigo Rodrigues, Patrick Muniz, Greco Nogueira, Guilherme (Guigui), Vinícius Oliveira (Burrin) Jonas, Jaciel, Eduardo, Nelson Abelha, Carlos Magno (Lilico) Mosquito, Douglas Leão, Leandro Valadares, Leonardo Valadares, Homero Galvêas, Alexandre Galvêas, Márcio Figueiras, Tomaz Musso, Irio Leão, Marcelo Leão, Aldo (Canhão), Eli Tonassi, Pedro Leão, Willians Regis, Wallace Regis, Luiz Marcos (Marquinho Diabo), Denilson (Tufão), Jetinho, Washington, Maycon Corti, Matheus Corti, Murilo Corti, Erasmo Vieira, Lucas Vieira, Edgar Vieira, Helio Valadares, Joselito, Sidney de Almeida, Danilo de Almeida, Edson Vieira, Nanado, Jaison Nunes, Douglas Sampaio, Jocimar Nunes (Buchecha) e muitos outros.
Valter Balunga, com alguns ajudantes, restaura todo ano as alegorias da Vaquinha e Mulinha para o desfile. Vinícius Oliveira, Toninho Natural e Buchecha preservam a tradição de confeccionar as antigas máscaras folclóricas.
Reportagem do Jornal A Tribuna sobre a confecção de máscaras de carnaval (05/02/2016).
É tradição não deixar nenhuma parte do corpo a mostra, servindo qualquer vestimenta para isso. O macacão de chita, que é um tecido comum nas manifestações de cultura popular, é muito utilizado. Como acessórios, são utilizados chapéus de palha, vegetação (cipós, palhas e trepadeiras) para cobrir o corpo, cordas para laços, varas, capacetes de motocicletas com chifres bovinos, ombreiras de espumas, calçados resistentes, pintura corporal com carvão, picumã, tintas guache e acrílica, entre outros.
A comunicação é pouca: a ordem é brincar!
Os mascarados emitem uma espécie de pio agudo, “Thrúuuuu” que é a sua forma de se comunicar, simulando um ser místico da natureza. Outra forma de expressão sonora ocorre ao longo da correria da brincadeira. Os mascarados “trotam” os calçados (coturnos e botas em sua maioria) no chão fazendo barulho de tropa e gritam: “Hei! Hei! Hei! Hei! Hei!” esse barulho é feito para chamar a atenção do público de que o bloco se aproxima. O muleiro imita o vaqueiro se comunicando com a vaca e os mascarados verbalizam com a vaca para irritá-la.
Alegorias levam meses para ficar prontas
A preparação das alegorias da vaquinha e da mulinha e as máscaras dos mascarados começa meses antes do carnaval, confeccionadas por pequenos grupos em casas e terrenos no bairro. A vaquinha é composta por uma caveira bovina com os chifres, o corpo é formado por paus e arames, coberto com panos de chita. A caveira é preenchida com espumas e toda a estrutura é pintada, com o nome escolhido pra representar uma situação em todas as esferas, de local até internacional, ironizando algum fato importante ocorrido durante o tempo que precede a festa.
A mulinha é formada por um gancho de madeira vestido na altura da cintura preso ao corpo do muleiro por alças, de cabeça feita com panos e espumas e toda a alegoria é revestida com panos. No acabamento ela é pintada e recebe um nome no mesmo sentido da vaca. Oscar Valadares – o primeiro muleiro – se pintava com picumã.
Cabe realçar que as escolhas dos nomes das alegorias da vaquinha e da mulinha são sempre representativos de algum acontecimento de importância da história recente; a “vaca louca”, em homenagem a doença de mesmo nome que assolou a Europa, “Dilma” a presidente que perdeu o mandato, “Zica”, abordando o assunto do zica vírus, “Madalena”, em homenagem a música do congo. No início os nomes eram pueris: “mansinha”, “dengosa”. “manhosa”. Com o passar dos anos os temas se tornaram de cunho crítico, sobre a influência dos meios de comunicação, como a TV.
Vaquinha no carnaval de 2017 foi batizada de Fébre, em decorrência dos casos febre amarela registrados. Foto: Lena Côgo.
Saiba mais sobre o Bloco dos Mascarados.
Saiba mais sobre a história do Bloco dos Mascarados.
Créditos do texto: Marcus Vinícius Machado de Oliveira
Colaboração: Homero Bonadiman Galveas