Chora Barra

O que é o Projeto “Chora Barra”?

Encontro, Memória e Formação de Chorinho na Barra do Jucu:

O projeto realiza de Encontro de Chorinho da Região Metropolitana, precedido de levantamento de memória com homenagem ao Mestre falecido Francisco Firme – Seu Chiquinho e formação de grupo de choro, através de oficinas musicais de chorinho, utilizando instrumentos como o pandeiro, violão e cavaquinho.

Sendo o Museu Vivo da Barra do Jucu um importante Ponto de Memória Estadual identificou-se a existência do Regional de Seu Chiquinho, que através do chorinho e música carnavalesca, animou muitas festas particulares, bares e carnavais na Barra do Jucu entre os anos 1980 e 2010 quando veio a falecer.

Por duas décadas realizou diversas apresentações no circuito cultural do Estado, com destaque para a festa anual do choro promovida no Morro dos Alagoanos, em Vitória, conforme registrado no Facebook:

https://www.facebook.com/RegionaldoseuChiquinhoSaudades/mentions

Seu Chiquinho foi o homenageado do Circuito Nacional do Choro Publicada em 21/08/2009, – Diário de Vitória, confirmando o reconhecimento a nível Estadual e Nacional.

Objetivando resgatar o Chorinho da Barra do Jucu, homenageando o grande Mestre “Seu Chiquinho” e fomentar a sua continuidade através das novas gerações, o Museu Vivo da Barra do Jucu propõe através deste projeto, realizar também o levantamento de sua Memória, com formação musical instrumental de corda e percussão e formação de novo grupo de chorinho, culminando no Projeto “1º Encontro de Grupos de Chorinho da Grande Vitória”, antecedendo e no dia Nacional do Chorinho 02 de abril.

O projeto também revitaliza o chorinho na Barra do Jucu com incentivo a profissionalização do grupo promovendo apresentações nos bares e restaurantes locais, municipais e estaduais, bem como nas diversas festividades municipais e estaduais.

Para as oficinas de formação musical pretende-se envolver adolescentes e jovens da comunidade da Barra do Jucu e demais bairros adjacentes com total de 20 alunos por oficina de instrumento de corda e 10 alunos por oficina de instrumentos de percussão. Estas oficinas terão carga horaria ade 3 horas semanais, durante 6 meses totalizando 60 horas e serão ministradas na Sede do Museu vivo da Barra do Jucu.

O 1º Encontro de Grupos de Chorinho da Grande Vitória será realizado na Praça Pedro Valadares com grande festa comemorativa ao Dia Nacional do Chorinho com participação das entidades organizadas da comunidade com barraquinhas de artesanato, comidas e bebidas típicas promovendo a economia criativa local.

Estima-se a participação direta de 5.000 pessoas e dezenas de milhares indiretamente com a transmissão ao vivo pelas redes sociais do Museu Vivo.

Programação do Projeto

LANÇAMENTO – DIA 08/12/23 – 20H – REPÚBLICA DA BARRA

OFICINAS DE CAVAQUINHO – 60h / 3 horas por semana / domingos das 9 às 12h na sede do Museu Vivo – Professor: Alexandre Araújo – 10 vagas.

OFICINAS DE VIOLÃO – 60h / 3 horas por semana / domingos das 9 às 12h na sede do Museu Vivo – Professor: Jorge Gabriel – 10 vagas.

OFICINAS DE PANDEIRO – 60h / 3 horas por semana / domingos das 9 às 12h na sede do Museu Vivo – Professor: Edu do Pandeiro – 10 vagas. 

Programação das Aulas

Fevereiro: dias 04, 18 e 25.

Março: dias 03, 10, 17, 24, e 31.

Abril: dias 07, 14 e 28.

Maio: dias 05, 12, 19 e 26.

Junho: dias 02, 09, 16, 23 e 30.

As inscrições foram encerradas e o projeto está sendo executado com grande sucesso e aceitação do público. Viva Seu Chiquinho!

Resultados do Projeto

Memória de Seu Chiquinnho

Seu Chiquinho, o músico da Paleta de Manteiga

A vida e a arte do ‘Pixinguinha’ capixaba

Apresentação

Peço licença ao mestre para falar da sua vida e da sua arte, e prometo todo o respeito possível ao adentrar nesta história tão rica, tão cheia de nuances, memórias afetivas por todos os lados.

E logo também peço desculpas ao mestre se cometer imprecisões, falhas ou erros. Falar ou escrever sobre a vida deste capixaba tão autêntico, remexer no baú de memórias da família, dos amigos e do seu público, não foi tarefa fácil. Apenas tentamos nos aproximar do que viveu, e viveu intensamente, Francisco Firme, o Seu Chiquinho.

Como colocar nas páginas de um documento, a vida e a obra de alguém que, por 83 anos, partilhou sabedoria e alegria? Mas vamos aqui tentar registrar através de textos, fotos, depoimentos e registros, a vida do mais autêntico representante do chorinho capixaba.

Um homem de origem humilde, verdureiro, mas que alguns chamam de “lenda”, outros de “mestre”, que com sua genialidade musical, e seu jeito simples e alegre, encantou por décadas e décadas, uma parcela do povo capixaba. “Foi o nosso Pixinguinha”.

A música circulava nas veias da família Firme, numerosa e moradora da zona rural de São Rafael, localizado entre as divisas de Domingos Martins e Viana (ES). Todos, homens e mulheres, gostavam de tocar ou cantar. Era a marca registrada das festas em famílias, e depois em aniversários, casamentos, bares, praças e palcos. O som dedilhado pelos Firmes conquistou ouvidos e corações e Seu Chiquinho, em seus 83 anos de vida, contribuiu para marcar a cultura capixaba com seu toque melodioso.

O mestre do chorinho capixaba faleceu em 24 de junho de 2010.

A memória é o que nos mantem vivos mesmo depois que fazemos a passagem para a outra dimensão, é a lembrança que deixamos nos corações de quem fica. E como lembramos de seu Chiquinho, com quanta saudade, com quanto carinho, e com que vontade grande de ouvi-lo tocar novamente sua Emboladinha.

Mas como não é possível, a não ser pelas gravações em programas de TV ou no CD Chico Experimental que gravou em 2002, é que o Museu Vivo da Barra do Jucu elaborou o Projeto Chora Barra, aprovado no edital 013/22, do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura)  que visa resgatar a Memória de Seu Chiquinho, promover ensino da música, a iniciação musical em alguns instrumentos que compõem o Choro, o cavaquinho, o violão e o pandeiro.

É uma pequena contribuição para a música capixaba e para quem sabe, qualquer dia desses, ao passear pelas ruas da Barra do Jucu, possamos ouvir novamente outros “Chicos” e “Chicas” tocando e outros chorinhos maravilhosos.

“Toca a Emboladinha Chico!!”

Seu Chiquinho Presente!!!

Marina Filetti – Jornalista

Museu Vivo da Barra do Jucu

Agradecimentos

Este documento, que resgata a memória de Francisco Firme, Seu Chiquinho, foi construído a muitas mãos, com recortes de boas lembranças daquele homem simples, despretensioso, que com sua música alcançava nossos corações. Por isso queremos agradecer a todas e todos que colaboraram com suas lembranças, seus depoimentos, suas fotografias, informações, e assim fomos seguindo os passos de Chico.

Ao Museu Vivo da Barra do Jucu, uma organização de resgate da cultura e das tradições da Barra do Jucu, que elaborou o Projeto Chora Barra, e que busca trazer presente a memória de Seu Chiquinho como um legado, para a geração atual e para as futuras, de como a música é importante para a vida em comunidade e de como este capixaba simples e humilde contribuiu imensamente para a nossa cultura popular, a maioria das vezes feita sem remuneração, apenas com aquela vontade de emanar a arte como instrumento de transformação humana;

À Família Firme, guardiã das memórias mais afetivas do carinho e respeito, conserva as boas lembranças daquela grande família, tão cheia de histórias, o retrato da família capixaba, e que nos cedeu não apenas depoimentos, mas também fotografias de um tempo muito importante para todos;

Aos músicos e músicas que integraram o Regional do Seu Chiquinho e que, junto ao mestre fizeram da Barra do Jucu, e de muitos palcos, um lugar mágico como aquele chorinho melodioso de Francisco: Geraldo Pignaton, Sérgio Lobão, Dulce Lodi, Marilena Soneghet, Anita Bonadiman Galveas e tantos outros que passaram pelo regional.

À Dulce Lodi que mantém viva a memória de Seu Chiquinho através da página online Regional do Seu Chiquinho Saudades, onde encontramos muitos registros para este documento;

Ao músico Augusto Galveas, com lembranças tão latentes de Seu Chiquinho; Ao professor e historiador Homero Bonadiman Galveas, estudioso formação da comunidade e das memórias da Barra do Jucu; À Dona Clercy, Claudio Vereza e Wilys  Falcão da Silva, o músico Alexandre Araújo, que colaboraram com a reconstrução desta história;

Ao Governo do Estado do Espírito Santo, que através da Secretaria de Estado da Cultura e do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) tornou possível da realização do projeto Chora Barra.

Enfim, obrigada a todos e todas. E que jamais deixemos de nos lembrar daquele que engrandeceu a música capixaba e espalhou boas energias por onde passou.

Não nos esqueçamos nunca de Seu Chiquinho, pois assim o mantemos vivo para a música capixaba, para o Choro e para as gerações futuras. Estas saberão que um dia, um tal Francisco, um tal Chiquinho, ajudou a fazer da Barra do Jucu um lugar encantado, o melhor lugar do mundo para se viver!

Valeu, Seu Chiquinho! Sempre PRESENTE na memória capixaba!

“Um povo que preserva sua história, sua memória e seus habitantes está possibilitando diretamente a construção de um futuro para com sua gente e sua cultura. E por mais que estejamos em outro tempo (com a tecnologia de ponta, as novas mídias, a internet, era digital, etc.), um povo se torna “rico” mantendo seus traços e requintes culturais dos seus antepassados, fazendo um encontro do velho com o novo, do erudito com o popular, do local/ regional com o nacional, da literatura com os causos regionalistas, do simples com o complexo”.

Joelson Ramalho Rolim – Professor de História

“A memória é o campo do amor preservado. É nela que a autoridade do discurso humano encontra a raiz mais sustentadora. É na memória que lhe guardo. É no coração que lhe preservo”.

Douglas Feliphe – Site pensador.com

Quem foi Francisco Firme, o Seu Chiquinho

Francisco Firme, o Seu Chiquinho como era carinhosamente chamado pelos amigos e músicos que sempre o acompanharam, foi um capixaba autêntico, fruto do “caldeirão de raças” que formou o estado do Espírito Santo.

Autodidata, dono de virtuosismo raro, ao longo do tempo foi se aperfeiçoando no instrumento – com afinação diferente da normalmente usada para o cavaquinho, já que o afinava como o bandolim, a mesma do violino. Inspirou-se em Jacob do Bandolim, Luperce Miranda e Waldir Azevedo.

Imperdível como intérprete (choros, sambas, boleros, marchas de carnaval, maxixes, dentre outras modalidades musicais), foi também compositor, em especial de emboladinhas e de improvisos.

“Seu Chiquinho” foi um patrimônio cultural do Espírito Santo e o protótipo da identidade musical capixaba.

Origem

Francisco era filho de pai de descendência europeia e mãe de descendência negra. Um verdadeiro “mestiço”.

O pai, Mariano Firme, era de origem açoriana. E a mãe, Maria Cândida, a Mãe dindinha, era neta de Mãe Cinda, escrava e uma das 30 filhas de um arrematador do patrimônio jesuítico da fazenda de Araçatiba, em Viana.

O casal Firme teve nove filhos – sete homens e duas mulheres – José, Bernardo, Jacob, Rafael, Floriano, João, Francisco, Vícia e Maria de Lourdes.

Francisco nasceu em 05 de fevereiro de 1927, no Patrimônio de São Rafael – Domingos Martins. Mas só foi registrado em 27 de outubro daquele ano.

Localidade de São Rafael, onde Seu Chiquinho nasceu.

A família sobrevivia da agricultura, mas a música era latejante nas veias dos Firmes. Francisco iniciou os primeiros acordes ainda criança. Foi seu tio Bonina Cândido de Sá, que o ensinou os primeiros acordes do violão aos oito anos de idade.

“Ele perguntou: Tio, como eu toco? E o tio respondeu: você pega esse instrumento, e procura a música que você mais gosta. E assim, Chico, autodidata, começou a tocar, aos 8 anos. Aos 12 anos ele já era o regente do grupo musical de foliões formado pelos irmãos, que tocavam no vale do Rio Jucu” – Geraldo Pignaton, médico, amigo e integrante do Regional do Seu Chiquinho.

Com 15 anos Francisco passou a acompanhar os irmãos e a tocar em festas e casamentos no grupo musical formado pela irmandade. Devido à distância e ao difícil acesso, a família mudou-se de São Rafael para perto de Campinho, região chamada de Peixe Verde.

Além da propriedade em Viana, Mariano Firme também era dono de uma área no Morro do Moreno, em Vila Velha. Essa área foi trocada por outra, pertencente a um tenente do Exército, em Rio Marinho, Cariacica.

 Ali a família estabeleceu nova residência, construiu uma casa batizada de ‘casa grande’ e deram continuidade à vida rural com o cultivo de hortaliças e criação de gado.

Na fazenda Marinho havia a casa grande, a casa dos filhos que iam casando, curral, hortas, chácaras e a igreja de Santa Catarina, cuja imagem foi comprada por Mãedindinha diretamente de Portugal, que veio de canoa do porto de Vitória pelo Rio Marinho. Todos moravam na “casa grande” trabalhavam juntos e dividiam tudo igualmente” Ângela Firme – Sobrinha de Seu Chiquinho

Em Rio Marinho, os filhos e filhas de Mariano e Maria Cândida casaram-se, mas continuavam morando juntos. Na fazenda cada um cultivava sua horta e de canoa desciam o Rio Jucu, depois o Canal dos Jesuítas, até a Baia de Vitória, onde vendiam verduras na Vila Rubim.

“Após a morte de Mariano e Maria Cândida Firme, a Mãe dindinha, a fazenda foi inventariada e dividida entre os nove irmãos, que a lotearam e venderam, formando vários bairros: Sotelândia, Bela Aurora, Vista Mar, Castelo Branco, Santa Catarina I, II e III, Bela Vista, Valparaiso e Bandeirantes” – Angela Firme.

Mariano Firme – Pai da família Firme – Foto reproduzida de um quadro da família.

Família Firme em dia de casamento na família – na imagem acima, podemos ver o único registro fotográfico da Maria Cândida, a Mãedindinha, matriarca da Família Firme.

Irmãos Firme: Na foto acima, podemos ver em pé: Rafael, Lourdes e Vícia. Sentados (da direita para a esquerda) Bernardo, Francisco, Floriano, Jacob, João e José. Este em pé, do lado direito, era o Tio Amâncio, irmão da mãe Maria Cândida.

Na foto acima podemos ver um momento de encontro da Família Firme: irmãos, esposas, sobrinhos, toda a pluralidade da família capixaba.

Na foto acima podemos ver a Casa grande, onde a família Firme morou em Rio Marinho, Cariacica, e de onde os Irmãos saiam para tocar nas festas. Depois de casados, vários deles continuaram morando na mesma casa, inclusive Seu Chiquinho e Dona Élida. 

Na foto acima podemos ver os irmãos de Seu Chiquinho – Rafael, Lourdes, Vícia e Floriano.

Na foto acima podemos ver Rafael, Lourdes e Floriano.

Na foto acima, podemos ver com 104 anos (em 2024), Maria de Lourdes é a única irmã de Seu Chiquinho ainda viva, e mora em propriedade que foi e continua sendo da família, no bairro Rio Marinho, Cariacica.

Na foto acima, vemos a família de Jorge, filho de Seu Chiquinho que já faleceu – da esquerda para a direita, Rayane (neta), Silene (nora), Rayara (neta) e Rodrigo (Neto).

Música e namoros

“Os rapazes formaram um grupo de músicos para tocar nos bailes de Caçaroca, onde havia belas moças. Chegavam a cavalo, de roupas brancas e causavam” – Angela Firme – Sobrinha de Seu Chiquinho. Cacaroca é uma comunidade vizinha de Rio Marinho, em Cariacica, onde os irmãos Firmes iam tocar e também namorar.

“Eles saiam a noite tocando, num aniversário, numa festa, e antes deles chegarem, eles já escutavam as vozes, o pessoal já os ouvia tocando no batelão, uma árvore de madeira cavada e era uma festa a noite toda. E de manhã eles tinham que sair procurando os cavalos porque os homens, com ciúmes, cortavam os arreios e soltavam os animais” – Geraldo Pignaton

Foram nesses bailes que os irmãos Firmes, além de executar toda a musicalidade natural da família, conheceram suas futuras esposas. E Francisco começou a namorar com Élida, aquela que viria a se tornar sua esposa.

Casados, Chiquinho e Élida também moraram, por um tempo, na casa grande em Rio Marinho. Depois mudaram-se para Alto Caratoíra, em Vitória, onde nasceram os dois filhos da casa, Fabio e Jorge Firme.

“Ele trabalhava numa banca na Vila Rubim, onde comercializava frutas, verduras, hortaliças e grãos levados pelos irmãos, parentes e amigos da região de Rio Marinho e Caçaroca. Estas mercadorias eram levadas do Rio Marinho para o mercado da Vila Rubim de canoa pelo rio até o porto da Vila Rubim – Angela Firme 

Francisco vendeu verduras com os irmãos, na Vila Rubim, em Vitória, por mais de 20 anos, até comprar sua própria banca. Nesse período já casal vinha na Barra do Jucu, mas somente para acompanhar o time de Caçaroca, o Cacique futebol Clube, em partidas de futebol.

Antigo porto do Mercado da Vila Rubim, em Vitória, onde as mercadorias chegavam para serem comercializadas.

Música e namoros

“Os rapazes formaram um grupo de músicos para tocar nos bailes de Caçaroca, onde havia belas moças. Chegavam a cavalo, de roupas brancas e causavam” – Angela Firme – Sobrinha de Seu Chiquinho. Cacaroca é uma comunidade vizinha de Rio Marinho, em Cariacica, onde os irmãos Firmes iam tocar e também namorar.

“Eles saiam a noite tocando, num aniversário, numa festa, e antes deles chegarem, eles já escutavam as vozes, o pessoal já os ouvia tocando no batelão, uma árvore de madeira cavada e era uma festa a noite toda. E de manhã eles tinham que sair procurando os cavalos porque os homens, com ciúmes, cortavam os arreios e soltavam os animais” – Geraldo Pignaton

Foram nesses bailes que os irmãos Firmes, além de executar toda a musicalidade natural da família, conheceram suas futuras esposas. E Francisco começou a namorar com Élida, aquela que viria a se tornar sua esposa.

Casados, Chiquinho e Élida também moraram, por um tempo, na casa grande em Rio Marinho. Depois mudaram-se para Alto Caratoíra, em Vitória, onde nasceram os dois filhos da casa, Fabio e Jorge Firme.

“Ele trabalhava numa banca na Vila Rubim, onde comercializava frutas, verduras, hortaliças e grãos levados pelos irmãos, parentes e amigos da região de Rio Marinho e Caçaroca. Estas mercadorias eram levadas do Rio Marinho para o mercado da Vila Rubim de canoa pelo rio até o porto da Vila Rubim – Angela Firme 

Francisco vendeu verduras com os irmãos, na Vila Rubim, em Vitória, por mais de 20 anos, até comprar sua própria banca. Nesse período já casal vinha na Barra do Jucu, mas somente para acompanhar o time de Caçaroca, o Cacique futebol Clube, em partidas de futebol.

Herança jesuítica

“Chiquinho é uma lenda. Foi o nosso Pixinguinha. Talvez a Barra do Jucu tenha sido agraciada por ter recebido essa lenda que é uma herança jesuítica. Chiquinho era sobrinho do maestro da banda de Araçatiba. Sobrinho do maestro da banda de Viana. A mãe de Chico era neta de Mãe Cinda, escrava e uma das trinta filhas de um arrematador do patrimônio jesuítico da fazenda de Araçatiba” – Geraldo Pignaton

Fazenda de Araçatiba

A Fazenda de Araçatiba, em Viana, assim como toda a herança deixada pelos jesuítas, faz parte da história do Espírito Santo, por sua importância cultural e econômica para o Estado no contexto da colonização. É o registro mais expressivo da passagem destes religiosos por terras capixabas, a partir de 1551 quando eles aportaram por aqui pela primeira vez.

Segundo o livro a História da Barra do Jucu, do historiador e professor Homero Bonadiman Galveas, a sede da Fazenda ficava a três léguas da foz do Rio Jucu, da qual a Barra do Jucu fazia parte. Tinha grande representatividade na economia colonial e um modelo de como funcionava a engrenagem da época.

“Esta fazenda produzia açúcar, cereais e carne bovina. Abrangia quatro fazendas de gado ou curais e sete datas de terra, no início do século XVIII. Compreendia Ponta da Fruta, Barra do Jucu, Campo Grande, Araçatiba (onde ficava a sede, a igreja e a Senzala), além de Mamoeira, Biritiba, Jucuna, Camboapina, Mateus Pinto, Jaguaruçu, Jabaete, Tapoera, entre outras localidades ribeirinhas. Somando quase dois mil alqueires de terra – Livro História da Barra do Jucu, do historiador e professor Homero Bonadiman Galveas

O Livro registra ainda que muitos consideravam a fazenda de Araçatiba como a maior fazenda entre o Rio de Janeiro e Salvador (Ba), e por outros como a maior do litoral brasileiro. Ela possuía 850 serviçais, sendo 400 negros escravizados e o restante indígenas.

Para utilizarem todas essas terras, com grandes áreas alagadas, e melhorar o escoamento da produção, foi aberto um canal de 12 quilometros de extensão, ligando o Rio Jucu a Vitória. Conhecido como Canal de Camboapina ou Canal do Rio Marinho, que serviu para drenar os brejos existentes e também se tornou uma rota comercial entre Araçatiba e Vitória.

Com a expulsão dos Jesuítas, as propriedades foram postas a leilão como a fazenda de Araçatiba. Os outros bens foram colocados sobre os cuidados da capitania como o Palácio Anchieta, Antigo Colégio de São Tiago, e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Vila Velha.

Um dos arrematadores da fazenda de Araçatiba foi o coronel Bernardino Falcão, que quando faleceu deixou a herança para o filho, o também coronel Sebastião Vieira Machado. Este teve 30 filhos e filhas com escravizadas indígenas e negras. Depois de sua morte, seus bens foram partilhados por estes herdeiros.

“Na fazenda de Araçatiba, dos Jesuítas, tinha como forma de catequese o teatro, a música e as bandas de instrumentos.  Na igreja de Araçatiba, até pouco tempo atrás, tinha. E seu Chiquinho e a sua família são resultado disso, dessa riqueza história de Araçatiba” Homero Bonadiman.

Rio Jucu – o elo de ligação

“Seu Chiquinho e outros personagens aqui da Barra, como Seu Alcides e Seu Honório, das bandas de congo, tem muito a ver com o trânsito do Rio Jucu. O Rio Jucu É fundamental na história aqui da Barra. E seu Chiquinho e a família é desse ambiente também.

Os irmãos dele, vários, eram oficiais da polícia, faziam parte da banda da polícia, e todos eles sabiam algum instrumento, tocavam juntos. E seu Chiquinho, como o rio, vinha pra cá antes de morar aqui, ele e outros personagens vinham morar aqui e traziam o conhecimento.

Na fazenda de Araçatiba, dos Jesuítas, tinha como forma de catequese o teatro, a música e as bandas de instrumentos.  Na igreja de Araçatiba, até pouco tempo atrás, tinha. E seu Chiquinho e a família são resultado disso, dessa riqueza história de Araçatiba.  Eles vinham passar o verão aqui na Barra, trazendo esse conhecimento, fazendo as festas acontecerem dessa forma.

Esses personagens fazem parte da identidade, da história do povo, a cultura mais tradicional dessa região do ES. E tem a mesma raiz, as margens do Rio Jucu, os canoeiros do Rio Jucu, a fazenda de Araçatiba, está tudo interligado. Está tudo no mesmo balaio. O Rio Jucu escoava mercadorias, mas também cultura e pessoas, gente, gente com conhecimento da cultura tradicional, e isso é fundamental para o processo todo – Homero Bonadiman Galveas

Música Celestial

Já batizado de Chiquinho no universo musical, ele foi um grande intérprete de choros, principalmente, e sambas, boleros, marchas, maxixes, dentre outras modalidades musicais, foi também autor de composições, em especial da Emboladinha e de improvisos.

“Chiquinho é, ao mesmo tempo, nossa grande expressão musical no choro, como é o nosso principal fóssil musical. Chico preservou aquele elo de ligação entre a música jesuítica e a nossa modernidade. Se você for ao vale de São Rafael, você não acredita que naquele lugar, onde tem uma casa aqui e outra ali, pudesse sair uma pessoa que sequer tocasse um instrumento musical. E saíram muitas pessoas, porque havia uma ancestralidade atrás. Chico é o nosso elo perdido”. – Geraldo Pignaton

Lobão sempre dizia que Chico tem a “paleta melada”. Você tem que ouvir Chico, assim, pra você sentir a sensibilidade dele, como ele tratava a corda, como ele subia e baixava o tom. Você não vê isso em Jacob do Bandolim, em ninguém. Era o único camarada que executa isso. Sinceramente, eu nunca vi ninguém tocar assim.” – Geraldo Pignaton

Seu Chico fazia uma música celestial, certinha, e eu tinha que me encaixar. Eu fazia um paralelo que seu chico era um pintor de aquarela, traço fino, e eu ia com a trincha pra dar um preenchimento. Isso em termos de instrumentos que compõem e parte musical, o pessoal da percussão, e ele fazia aquela festa toda” Sérgio Lobão – Engenheiro, Integrante do Regional do Seu Chiquinho.

Chico é uma das principais expressões do choro que é uma música pautada, estudada, mas existe esses músicos que tocam intuitivamente e adquirem habilidade, porque tem o dom de executar com perfeição e no tempo certo. E seu Chico era dessa raiz, da intuição e da síntese de várias raízes de onde essa energia e esse conhecimento aflorava. Então sem dúvida, que como músico popular Chico foi de uma importância muito grande” – Sérgio Lobão

Na foto acima podemos ver o Regional do Seu Chiquinho se apresentando nos palcos de Vila Velha.

Barra do Jucu – O Refúgio de Chico

Quando já tinha se tornado muito conhecido como exímio tocador de cavaquinho e banjo, Chiquinho passou a ser convidado para tocar em muitos eventos.

Em 1959 Tuffy Nader, eleito prefeito de Vila Velha, presentou a Barra do Jucu, onde havia sido muito bem votado, com um show de Seu Chiquinho. E desde então, quando vinha de férias para a comunidade, Tuffy Nader mandava uma caçamba buscar a mudança de seu Chiquinho para passar a temporada de verão com ele por aqui.

Até que o próprio Chiquinho comprou uma casa de madeira na comunidade, onde ficou morando a partir de então. Tornou-se barrense e por aqui comandou o carnaval por mais de 40 anos. Em torno dele se reuniam muitos blocos, principalmente o Bloco das Ciganas.

Na Barra do Jucu ele formou o Regional do Seu Chiquinho, pelo qual passaram muitos músicos. Na sua última versão, Chiquinho comandava a roda hora no cavaquinho, ou banjo e até na guitarrinha. Somava-se à roda Sérgio Lobão no violão sete cordas, Julinho no surdo, Geraldo Pignaton no reco-reco, Dulce Lodi no pandeiro e voz, Dona Élida no chocalho e voz, Anita Bonadiman Galveas na voz, e Marilena Sonegueth no Chocalho e Voz. Outros músicos também se somavam na roda.

“A gente mudou para a Barra em 1974. Casamos e compramos a casa no mesmo dia. E aí todo final de semana, de tarde, ouvíamos um sonzinho gostoso e ficávamos procurando, ou era na calçada do Seu Aristóteles, ou era no Bar do Délio, ou na Pracinha, ele ficava por ali tocando. Eu sempre ia, aquela música sempre me atraiu” – Anita Bonadiman – Regional do Seu Chiquinho

“Eu sempre tive uma ligação muito forte com a música, com meu pai, minha família toda canta muito e eu gosto muito daquele choro Pedacinhos do Céu. Toda vez que eu chegava, ele tocava essa música. Era tão lindo isso, ele já sabia! E a gente acompanhou seu Chiquinho sempre”. Anita Bonadiman

“Foi fascinante a convivência com Seu Chiquinho. Eu encontrei seu Chiquinho há mais de 40 anos atrás, quando meus filhos eram criancinhas, e eu passava as férias no sitio do meu tio Dório, Dório Silva, e vínhamos a tarde passear na Barra. Lá estava seu Chiquinho em frente à Igreja, na Pracinha, tocando às vezes sozinho, às vezes com pessoas assistindo atenciosamente. E eu fiquei apaixonada pelo chorinho dele. Seu Chiquinho tinha o chorinho na alma, ele tocava com sentimento. Não era só técnica não. O chorinho dele era perfeito” – Marilena Sonegueth – Escritora e Integrante do Regional do Seu Quinho

“E seu Chiquinho, por muitos e muitos anos, por uns 20 anos, eu pude usufruir da música do seu Chiquinho. Quando eu vi que o pessoal se reunia para tocar, eu peguei o meu chocalho, e fui, na cara de pau, comecei a tocar. Ninguém me rejeitou. Então eu passei a tocar junto. Fomos no Morro do Alagoano, em vários lugares, e eu fui aceita como se fosse do grupo, com meu chocalhinho na mão” – Marilena Sonegueth

Aos poucos foi entrando o carnaval das batucadas, dos sambas e das marchinhas, dando origem ao Bloco Surpresa, no início ainda comandado por seu Chiquinho.

“Com o crescimento do Bloco, seu Chiquinho foi ficando de lado, não podia competir com o Trio Elétrico” Geraldo Pignaton

Afastado do carnaval, Seu Chiquinho passou a tocar apenas na igreja, durante as celebrações religiosas. Esporadicamente tocava nos bares da comunidade acompanhado de outros músicos.

Encontro com Lobão

E foi num desses momentos que aconteceu um encontro que iria trazer Seu Chiquinho de volta para a música popular– o encontro com o engenheiro Sérgio Lobão, que se tornaria seu parceiro mais constante na música e na vida, um amigo como diria Milton Nascimento “para se guardar do lado esquerdo do peito”. Neste momento Lobão ainda iniciava os primeiros acordes no violão.

“Era 1997 por aí, e seu Chiquinho tocava num bar aqui. Ainda tinha alguns músicos que tocavam com ele. Eu fui me aproximando, me achegando. Antes, entre 1993 e 94, no início do Bloco Surpresa, tiveram dois músicos que estiveram aqui na Barra e fizeram a parte musical do bloco, Jorge Gabriel e Cesar Almeida, e eles, com muita generosidade, fizeram oficinas musicais aqui no centro comunitário nessa época. Quem se interessava podia participar. Eu participei, eram amigos. E isso deu uma condição pra gente se envolver mais com música” – Sérgio Lobão

A aproximação de Chiquinho e Lobão estimulou o retorno do Regional do Seu Chiquinho – que além de Lobão e Chico, passou a contar com a participação constante de Geraldo Pignaton, Dulce Lodi, Julinho no surdo, Dona Élida, Anita Bonadiman e Marilena Soneghet.

O Regional voltou a animar o carnaval da Barra e subiu em muitos palcos, levando a música e a cultura capixaba por todos os cantos do Estado. Somente nesta nova fase do Regional é que Seu Chiquinho passou a receber caches pelas apresentações.

Era muito virtuoso nos instrumentos. Tocava principalmente o cavaquinho, afinado como o bandolim, interpretando chorinhos de Jacó do Bandolim, Waldir Azevedo e de tantos outros compositores, com uma destreza e uma suavidade melódica que todos admiravam. Ganhou até o apelido de “Paleta de Manteiga”.  Também compositor, em especial de emboladinhas e improvisos” – Geraldo Pignaton

O Regional animando o carnaval da Barra do Jucu

Gravação do CD Chico Experimental

Em 2002 – no quintal de Cleber Galveas e Anita Bonadim foi gravado o CD Chico Experimental. A gravação foi feita pelo jovem músico Augusto Galveas. Participaram da gravação Sérgio Lobão, Dulce Lodi, Geraldo Pignaton, Xumbinho, Dona Élida, Anita Bonadiman e Marilena Soneghet.

“Eu fico feliz de ter contribuído, porque foi uma gravação independente, feita na varanda da casa dos meus pais, há mais de 20 anos atrás. Foi uma fase que ele tocava muito aqui na Barra do Jucu. Foram três faixas autoriais, que a gente não conseguiu decifrar se era de alguém, mas que a gente tinha como composição dele, e uma delas foi a Emboladinha. Que a gente tem como sendo autoral dele. A musicalidade dele tinha uma técnica irretocável, um som com uma massa sonora que Lobão chama de “paleta de manteiga”. Augusto Galveas – Músico

“Seu Chiquinho foi um dos mestres da Barra do Jucu. Do ponto de vista da música da Barra do Jucu, foi uma estrela gigantesca que influenciou e influencia muito o que acontece aqui, o carnaval, os momentos festivos, o encontro de todos  os grupos que tem por aqui, o choro, a musicalidade, a melodia dele, tudo que ele trouxe pro universo da cultura da Barra do jucu, é  muito representativo” – Augusto Galveas   

“É de ressaltar a técnica dele, a paletada dele enchia o som, era suave, ele conseguia expressar muito bem. Ele tinha uma segurança incrível para tocar as melodias, dominava a técnica, as cadências, os acordes. Era muito prazeroso ouvir seu Chiquinho. É o cara que a gente tem como mestre na nossa música da Barra do Jucu, e por consequência da música capixaba e da música brasileira” – Augusto Galveas

“Seu Chiquinho foi um grande músico, exímio instrumentista solista autodidata. Encantava a todos com seus chorinhos e interpretações dos grandes clássicos da nossa música e dos nossos carnavais. E o destino nos concedeu a oportunidade de acompanhar o seu Chiquinho por um bom tempo” – Sergio Lobão

Confira a capa e contra capa do CD na imagem acima. Abaixo é possível ouvir as faixas do CD que foi produzido por Augusto Galvêas.

Registros fotográficos da gravação do CD Chico Experimental, na varanda da residência de Kleber Galveas e Anita Bonadiman, em 2002.

Emboladinha

A Emboladinha foi um ritmo de chorinho criado por Seu Chiquinho que cativava todos que o ouviam.

A emboladinha é uma história muito complicada. Na verdade, Chico é um compositor, mas não um compositor do ponto de vista de quem cria. Uma vez eu falei com Lobão que Chico parecia com Pixinguinha, ele não tinha um estilo definido. Ele era um monte de estilo. Chico era a nascente de um passado que tinha se perdido

Você tem um lago, um brejo no alto de uma montanha, ali tem uma infiltração de água e essa vai correr até lá em baixo, sem nascente. Chico era essa nascente como Pixinguinha. Eles são os caras que resgatam a musicalidade brasileira. Chico restaura a nossa musicalidade barroca.

Por que tinha o nome de Emboladinha? Porque havia o congo e havia a música barroca do cravo. Os jesuítas vieram pra cá em 1559 e, em 1769, 210 anos depois, são expulsos. Nesses 210 anos eles se isolaram no ES de tudo que é influência de música europeia. Não teve Bach, não teve ninguém aqui. Só ficou aquela música barroca, vivaldiana do cravo, que ficou aqui e quando o cravo estragou, eles fizeram o bandolim e o cavaquinho. Tanto que o cavaquinho aqui do Espírito Santo é afinado em ré la mi si, que é a afinação do bandolim.

Então o Chico é aquele indivíduo que pega esse passado e resgata. Essa influência jesuítica fica no ar em Araçatiba e Viana, e Chico é esse sintetizador que sai com isso. E sai a Emboladinha. Tinha o congo e tinha a música erudita. O congo tocava nas senzalas, enquanto isso na casa grande ficava a música erudita que era a música barroca.

Os filhos dos escravos, negros com índios, que eram rejeitados pelas tribos, os jesuítas pegavam e criavam e educavam. Nossos primeiros padres jesuítas eram mestiços de negros com índias, que não eram aceitos pelas tribos. Os jesuítas criavam e eles se tornavam eruditos, inclusive grandes músicos. Então eles tocavam nas casas dos senhores. Mas eles visitavam os pais, tanto nas aldeias como nos congos. E eles falavam “Vamos embolar” e eles misturavam o congo com o Erudito.

Então se você pegar o ritmo do congo, ele casa com o ritmo do choro, a batida, e o erudito complementa. “O choro daqui é uma mistura do ritmo da música barroca com o ritmo do congo, como é a polca paraguaia que é uma mistura de ritmo do índio com o branco, então nasce a polca paraguaia, que segundo Artur da Távola, é a rainha do choro do Rio de Janeiro” Geraldo Pignaton

Partitura da Emboladinha feita pelo músico José Eupidio Quitiba sob encomenda de Geraldo Pignaton:   

Carteira de músico profissional

Somente em fevereiro de 2003 é que Seu Chiquinho tirou sua carteira de músico profissional, pela Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), recebendo seu primeiro cachê para tocar no carnaval da Barra do Jucu. E como tudo na vida do músico tinha uma história, o registro na OMB também foi cheio de histórias.

“Fizemos um show que a entrada era R$1,00 no Bregas Bar. Juntamos quarenta reais, o suficiente para pagar a inscrição. O presidente da Ordem dos Músicos, na época, era Elias Borges e ele duvidou que aquele senhor humilde soubesse tocar, e pediu logo que ele tocasse um choro. Chico se fez de humilde, mas tocou um dos seus choros mais difíceis de ser executado. Elias Borges se surpreendeu e aceitou a inscrição” – Geraldo Pignaton 

Reconhecimento

“Ele formou grupos musicais ao longo da sua vida de músico, foi reverenciado e homenageado por grandes músicos locais e autoridades públicas, tocou em inúmeros eventos musicais pela Grande Vitória. Recebeu certificados de mérito de várias entidades”Dulce Lodi.

A precocidade e a perfeição do som que saía das cordas de seus instrumentos foram reconhecidos nos principais eventos de Chorinho que aconteceram no Espírito Santo. Em 2009 Seu Chiquinho foi o homenageado do Circuito Nacional do Choro em Vitória, que comemorou o 548º aniversário da cidade.

2009 – Seu Chiquinho com o então prefeito de Vitória, João Coser, e o Secretário de Cultura da Cidade, Alcione Pinheiro.

Confira neste vídeo um dos momentos da apresentação do Regional do Seu Chiquinho durante o Festival. https://www.youtube.com/watch?v=IrTuxrLbAFA

Seu Chiquinho vinha a falecer no ano seguinte, em 24 de junho 2010, mas o Festival de Música de Botequim (Femusquim), um festival de Chorinho que acontece anualmente no Morro do Alagoano, Vitória, também presta homenagem póstuma ao músico. Quem recebe a homenagem é a esposa, Dona Élida.

“Seu Chiquinho eternizou, com belas melodias, seu nome na música capixaba. Uma pessoa simples, apaixonado pelo Espírito Santo, essa homenagem é uma forma de agradecer pela dedicação dele e pelo legado que nos deixou– expressou na época o então secretário de Cultura de Vitória, Alcione Pinheiro.

Grandes encontros em muitos palcos

O pioneiro do Choro no Espírito Santo, Seu Chiquinho, sempre reuniu no palco ou na casa de amigos, grandes nomes da música capixaba.  Vamos registrar alguns destes momentos:

Encontro musical de Seu Chiquinho com o clarinetista Sr Ferreira e outros músicos amigos, na casa de Geraldo Pignaton.

Na foto acima, Seu Chiquinho com Seu Miúdo e Pink, grupo de Regência, em Linhares, na casa de Sergio Lobão e Dulce Lodi.

Na foto acima, vemos o Encontro do Choro com o Samba, Seu Chiquinho com Edson Papo Furado, também na residência asa de Sergio Lobão e Dulce Lodi.

Na foto acima, vemos o Show do Regional na Feira da Terra, evento ambiental, na Prainha, em Vila Velha, em 2006.

Na foto acima, vemos o Regional do Seu Chiquinho no programa Palco Aberto para o Samba, Teatro Carmélia Maria de Souza, em Vitória, em 2007.

Na foto acima, vemos o Regional na Praça do Bairro Cobilândia, em Vila Velha, no projeto Chorinho nos Bairros, realizado pela Prefeitura Municipal, em 2008.

O último carnaval – Esta foi provavelmente a última apresentação musical de Seu Chiquinho, no carnaval de 2010, no antigo Bar do Ruy (Alan Kardec), na Barra do Jucu. Seu Chiquinho viria a falecer em 24 de junho daquele ano. Na foto acima, vemos o Seu Chiquinho com Dulce e Lobão.

Eu sou o samba

Em 2005 o Regional do Seu Chiquinho participou do Programa Eu Sou o Samba, da TV E. Confira:

Homenagem a Seu Chiquinho do Museu Vivo da Barra do Jucu. Painel da Galeria Livre pintado pela cantora Inara Novaes.

Dona Lourdes Firme, com 104 anos, veio ver o painel pintado em homenagem ao irmão.

Quem também foi conhecer o painel de Seu Chiquinho foi sua primeira bisneta, Rafaela Franco Firme Martins.

Dona Élida, a parceria no amor e na música

É impossível falar da vida e da música de Seu Chiquinho sem registrar a parceria mais importante e mais constante da sua vida, a esposa Élida de Araújo Firme, com quem teve seus dois únicos filhos, Jorge e Fábio. Destes filhos nasceram os quatro netos e cinco bisnetos do casal.

Dona Élida tornou-se presença constante, animada, nas rodas de chorinho, nos carnavais e palcos onde o Regional do Seu Chiquinho se apresentasse. Ela cantava canções divertidas e tocava sua maraca, alegrava e cativava o público com seu jeito matreiro de mulher que sabia viver.

Francisco conheceu aquela que seria para sempre “o amor de sua vida” ainda muito jovem, com 19 anos, e ela com apenas 15, naqueles bailes onde os irmãos Firmes eram estrelas. Namoraram e se casaram somente cinco anos depois.

O encontro aconteceu num daqueles bailes em que os irmãos Firmes, então moradores do Bairro Rio Marinho, iam tocar na comunidade vizinha, em Caçaroca, ambos em Cariacica.

Em entrevista ao jornalista Clodomir Bertoldi, publicada no Caderno 2 de A Gazeta de 07 de agosto de 2005, a própria Élida, conta como foi o encontro do casal. “A Família de Francisco ia sempre a cavalo tocar nas festas que acontecia na região. Aí pedi a minha prima mais velha para acertar o meu namoro com ele. Avisado, um dia, num baile, ele veio e me tirou para dançar e perguntou se era verdade. Tremi nas bases e nem consegui responder. Só disse que sim com a cabeça. Começamos a namorar, mesmo a contragosto da minha família que dizia que os Firmes eram muito mulherengos. Me casei com ele e duas primas minhas se casaram com dois irmãos dele”, declarou Dona Élida ao jornal A Gazeta.

“Falar de Dona Élida é falar de uma mulher forte, intensa. Seu Chiquinho e Dona Élida formavam um casal sem igual. Ele, ótimo músico, admirado por todos. Ela, a partir de certo momento da vida, começou a participar do Regional, tocando maracas e cantando quando havia alguma brecha no repertório instrumental de seu Chiquinho. Ela gostava de se apresentar ao público. Ela e eu fazíamos uma boa parceria nos vocais. Mas Dona Élida tinha um repertório próprio, de choros, valsas e a música da gata miando, sensual e divertida. ‘Eu queria que você fosse um dia ver as praias tão lindas do meu Ceará…’ que ela cantava lindamente” – Dulce Lodi

“Era a companheira e gostava muito de cantar. Seu Chico era instrumentista, mas ela gostava de cantar. Ela sabia a letra de todos os choros que tinha letra, e os que não tinha, ela alimentava do jeito próprio. No Carnaval as músicas cantadas, ela, Anita (Bonadiman), e outras mulheres. Tinha umas bem folclóricas, a história do rato, músicas que se encaixavam no choro. E ela se encaixava, e dava a palinha dela em alguns momentos. Essa vertente bem humorada e regional daqui, do folclore de Viana, que eles transformaram em música cantada” – Sérgio Lobão

“Ela sempre teve uma participação especial, animadíssima. No carnaval ela saia de mascarado e me assustava porque eu não sabia quem era. E era ela, Dona Élida. E cantava. Uma mulher forte.  E sempre junto com ele, dava sua contribuição com o seu jeito próprio de cantar” – Anita Bonadiman

“Dona Élida era uma figura que cantava com uma alegria! E seu Chiquinho, aquela emboladinha dele. E eu não só cantava, mas me punha a dançar também, quando pinicava a vontade de dançar, eu saia dançando no meio da rua” – Marilena Soneghet.

“Vovó sempre foi uma figura marcante, sempre alto astral, muito alegre com seu jeito simples. Onde Vovô estava, ela sempre estava também, com seu chocalho, fazendo suas brincadeiras” – Rodrigo Franco Firme, neto.

Saudades na família e na comunidade

A infância rodeada de avós, tios e tias e da ‘primarada’, deixou muitas saudades na família Firme que hoje vive espalhada, principalmente entre Cariacica e Vila Velha. Mas são as lembranças das rodas de boa música o que mais gera nostalgia entre os parentes de Seu Chiquinho.

Os netos, Rodrigo, Rayara e Raiane Franco Firme, filhos de Jorge, são cheios de memórias afetivas de seu avô tocando nos carnavais e nos bares da Barra do Jucu.

“Eu cresci na Barra e foi muito prazeroso ter acompanhado o vovô na sua trajetória musical. A gente o ouvia tocar de longe. O som do cavaquinho dele ecoava longe e isso foi uma coisa que me marcou muito. É uma satisfação ter sido neto de Seu Francisco. Eu tenho muito orgulho disso” – Rodrigo Franco Firme – primeiro neto de Seu Chiquinho e Dona Élida

“A gente morava perto da praia e ouvia o vovô tocando num bar próximo. Quando ele tocava “Brasileirinho” a gente sabia que era ele. Eu, como era pequena, até achava que aquela música era dele” – Rayara Franco Firme – Neta.

Elivelton Barbosa Siqueira é neto de Vícia Firme, irmã de Seu Chiquinho. E seu pai era primo de Dona Élida. Então ele conviveu muito com os dois lados da família e, por isso, cheio de boas memórias quando convidado para falar desses “bons tempos”.

 “Convivi muito com Tio Francisco nas rodas de música da família. É meu tio avô, irmão de minha avó. Já a esposa dele é minha prima de segundo grau. Ela de Caçaroca e ele de Rio Marinho, a família de Caçaroca e a família de Rio Marinho, esse encontro que proporcionou essa família imensa que nós somos. Sou fruto desse meio e cresci vendo Tio Francisco tocar e curtindo muito a sua música.  Eles tinham fazenda em Rio Marinho e em Viana. Quando se casou, minha avó foi morar lá, na localidade de Ladeira Grande.

Todos os irmãos tocavam e nossa família sempre gostou de samba, de choro, de música brasileira, de coisas boas, coisas que tocavam na alma da gente. E Tio Francisco tocava aquelas músicas que a gente adorava.  Mesmo sendo criança, e mesmo gostando de outras músicas, mas ouvindo aquele choro, aquela coisa maravilhosa sendo tocada, isso nos cativava muito. Ele tocava em casamentos, aniversários e nos encontros de família. Era aquela criançada vivendo aqueles momentos gostosos” – Elivelton Barbosa Siqueira – Sobrinho

Outra sobrinha que sente saudades dos tios queridos é Vera Sueli Firme de Melo, filha de Rafael Firme. Em suas memórias a casa grande, as hortas plantadas pela família, os tios descendo o rio de canoas para levar as hortaliças para o mercado da Rubim, em Vitória, e a música que ainda ressoa em seus ouvidos.

“A casa grande ficava no Rio Marinho, em Cariacica, onde morava a avó. E todos moravam juntos mesmo depois de casados.

Todos os tios tinham horta, desciam de canoa até a Vila Rubim, onde a produção era vendida. Ali era a nossa infância, subindo o morro, na horta, no bananal, no curral. Tinha um poço com águas cristalinas que era abastecido por uma nascente.

Quando eles eram jovens, iam para Caçaroca, todos de branco, eram homens muito bonitos, e as moças ficavam todas apaixonadas por eles. Quase todos casaram com moças de lá.

E quando Tio Chiquinho mudou para a Barra do Jucu, a gente morava em Cobilândia, ainda éramos criança, e com meu pai, então pegávamos o ônibus e vínhamos ver ele tocar, meu pai gostava muito Era muito bonito titio tocando” – Vera Sueli Firme de Melo – Sobrinha

A saudade que ecoa pela Barra do Jucu

Se na família, a saudade e as boas lembranças são muitas, o mesmo acontece com os moradores da Barra do Jucu, aqueles que tiveram o privilégio e conviver e ouvir a boa música que saia da “paleta de manteiga” do músico.

O bar do Nilton e do Délio Braga, pai e filho, bem no centro da Barra do Jucu, foi palco para muitas apresentações de Seu Chiquinho. Lá ele chegava aos domingos, por volta das dez horas da manhã, com seu bandolim, e logo os amigos se reuniam para ouvi-lo tocar. E assim, o dia seguia calmo, embalado por aquela música celestial.

Dona Clercy de Freitas Braga, esposa de Délio Braga, conta que logo muita gente se reunia no bar para ouvir Seu Chiquinho tocar. “Eu cheguei na Barra do Jucu em 1969 e ele já estava por aqui com seu banjo ou seu cavaquinho, fazendo a alegria de muita gente” – Dona Clercy.

Como ela era quem cozinhava os quitutes que eram vendidos no bar, e sempre levava os tira-gostos para o grupo que tocava, para Clercy seu Chiquinho sempre tocava a música Brasileirinho de Waldir Azevedo, um dos mestres do Chorinho Brasileiro. Com orgulho, Clercy conta que acompanhou a família sempre, principalmente depois que se tornou agente de saúde.

Seu Chiquinho e Dona Élida, deixaram muita saudade na Barra do Jucu. Ele animava muito não só as manhãs de domingo em nosso bar, mas os carnavais eram muito alegres com ele. Depois, por um tempo, ele tocou na igreja, e em seguida voltou a se apresentar em outros locais. Foi um tempo mágico” – Dona Clercy.

Outro saudoso dos tempos em que o chorinho ecoava nas manhãs de domingo pela comunidade é Wilys Falcão da Silva. Ele era o dono do Quiosque 24 Horas, na Avenida Ana Penha Barcelos, bem perto da Praia do Barrão, onde Seu Chiquinho e seus amigos se juntavam para tocar.

Era a primeira formação do Regional do Seu Chiquinho, no final   dos anos 90. Wilys relembra que o grupo era formado por Seu Chiquinho, Seu Irio, Seu Nilton e Beto, sem registrar os sobrenomes. Depois se integrou ao mesmo Sérgio Lobão, que seguiria com seu Chiquinho sempre, até o músico falecer em 2010.

“Desse tempo tenho muitas, as melhores lembranças da Barra do Jucu. Havia uma disputa entre Seu Irio e Seu Nilton. Seu Irio tocava muito bem, demais, então Seu Nilton aumentava o som do seu violão só pra disputar com ele. E Seu Chiquinho, muito calmo, só ria da situação. E a melhor música rolava da manhã até o final da tarde. E muita gente vinha vê-los tocar. Era demais” – Wilys Falcão

Wilys também é o guardião de um importante espólio de Seu Chiquinho, a coleção de mais de vinte discos de vinil, a maioria de chorinhos e sambas, que recebeu por doação de seu filho Fábio. Era nesses discos, ao ouvir muitas e muitas vezes, que o músico autodidata montava seu repertório.

A coleção é uma raridade e formada por discos gravados por grandes nomes da música brasileira, como Erneste Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolin, Waldir Azevedo, Altamiro Carilho, Luperce Miranda, Orlando Silveira, Carmem Miranda, entre outros.

O ex-deputado estadual Claudio Vereza é outro morador da Barra do Jucu que guarda as melhores lembranças daquele músico humilde, mas que tinha a grandiosidade e a sabedoria dos grandes mestres, os mestres que transformam a cultura popular brasileira na mais diversa, brilhante e inclusiva do mundo.

Ele destaca três momentos que marcaram a sua convivência com seu Chiquinho. O primeiro deles foi quando, como presidente da Assembleia Legislativa, em 2003, abriu as portas daquele Poder, até então dominada pelo poder econômico e pelo crime organizado, para o povo capixaba, para a cultura e para os artistas populares do Espírito Santo.

“Foi então que, para comemorar o Dia Nacional do Choro, levamos Seu Chiquinho e seu Regional, para se apresentar dentro do Poder Legislativo. Foi uma marca de mudança, de novos tempos para a cultura capixaba” Claudio Vereza

 

Outro encontro marcante com o ‘Pixinguinha Capixaba” aconteceu na Barra do Jucu, durante a comemoração do aniversário do Lobão, em 2008. Na casa do aniversariante se reuniram os grandes bambas da cultura popular capixaba, começando por Seu Chiquinho, o sambista Edson Papo Furado, Seu Miúdo de Regência, em Linhares, o mestre da banda de congo Mestre Honório Seu Daniel, Sergio Lobão, Dulce Lodi, Dona Élida e muitos outros.

“Foi um encontro de mestres da música capixaba, mestres estes que não estavam na mídia, mas que tinham a arte na alma e que devem ser referência para a juventude. Foi muito marcante para mim” – Claudio Vereza

E, por fim, Claudio Vereza relembra o encontro com o mestre na homenagem que recebeu da Prefeitura Vitória, em 2009, no Festival Nacional de Chorinho que acontecia na capital capixaba.

Ali se coroou o reconhecimento de Seu Chiquinho, da sua genialidade musical” – Claudio Vereza

Chorinho, patrimônio brasileiro

23 de abril é o Dia Nacional do Choro. Mas 29 de fevereiro de 2024 é uma data que entra para o calendário e para celebrar a história da música com uma importante vitória para a cultura brasileira. Pois foi neste dia que o Instituto do Patrimônio do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concedeu ao Chorinho o título de Patrimônio Imaterial do Brasil.

Essa decisão ressalta a importância desse gênero musical, fruto da diversidade cultural do nosso país. É também o reconhecimento do esforço dos milhares de chorões e choronas pelo Brasil, que criaram e se empenham em promover a valorização e preservação desta que é uma expressão musical genuinamente brasileira.

“É muito importante esta decisão do Iphan, principalmente para fomentar a formação de cursos, para o reconhecimento de instrumentistas, compositores e profissionais envolvidos com este gênero musical. Temos mais de 150 anos do gênero formado, com vários personagens importantes que foram determinando a transformação do choro como gênero urbano foi atuando dentro de outro gênero que posteriormente se formaram. Ou paralelamente, mas que ele influenciou diretamente, que é o gênero mais reconhecido da cultura brasileira que é o samba” – Alexandre Araújo, músico.

Surgimento

O Chorinho, tão bem interpretado pelas mãos hábeis, por não dizer mágicas, de Seu Chiquinho, e que conquistou tantos corações por estas terras, remonta à própria história do Brasil. Foi a primeira manifestação musical autenticamente brasileira, uma mistura de ritmos europeus e africanos surgido no Rio de Janeiro.

De acordo com dados do site musicabrasilis.org.br “a história do Choro começa em 1808, ano em que a Família Real portuguesa chegou ao Brasil”.

Com a corte portuguesa vieram instrumentos de origem europeia como o piano, clarinete, violão, saxofone, bandolim e cavaquinho e também músicas de dança de salão europeias, como a valsa, quadrilha, mazurca, modinha, minueto, xote e, principalmente, a polca, que viraram moda nos bailes daquela época.

Diz-se que o “pai do choro” foi Joaquim Callado Jr., um exímio flautista mulato que organizou, na década de 1870, um grupo de músicos com o nome de “Choro do Callado”.

 

Mas muitos compositores e intérpretes do choro surgiram ao longo da nossa história. Alguns, entretanto, merecem destaque, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Patápio Silva, João Pernambuco, Pixinguinha, Luís Americano, Villa-Lobos, Radamés Gnattali, Waldir Azevedo, e Jacó do Bandolim.

 

“Foi todo um movimento coletivo da tradução da música europeia de músicos, particularmente de origem negra, das profissões daquelas pessoas que não eram escravizadas, dos barbeiros por exemplo. Uma primeira classe de trabalhadores não escravizados do qual a população negra fez parte. Se você for ver Anacleto de Medeiros, Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazaré, todos eram de origem negra” – Alexandre Araújo – Músico.

Publicação do site cidadesdasartes.org.br revela que há várias explicações para a origem do termo choro. Luís da Câmara Cascudo, por exemplo, atribuiu o nome ao xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas. Já Ary Vasconcelos sugere que o termo se liga à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial.

A partir de 1880, o choro popularizou-se nos salões de dança e no subúrbio carioca. Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros compositores que deram características próprias, e o firmaram como gênero musical. No início do século XX deixou de ser apenas instrumental e passou a ser cantado também, além de ganhar um ritmo mais rápido, agitado e alegre.

Com o apoio do rádio e com investimento das gravadoras de disco, o gênero tornou-se sucesso nacional na década de 30. Pixinguinha, foi o principal nome do período, autor de vários choros e um dos maiores compositores da música popular brasileira. Ele foi tão importante para o gênero que o Dia Nacional do Choro foi estabelecido, em sua homenagem, no dia 23 de abril, aniversário do compositor.

Chamado de “Pai do Samba” e avê da “Bossa Nova”, nos anos de 1950, o Choro dividiu seu espaço com os

novos ritmos, mas se manteve presente na produção de vários músicos da MPB. A partir dos anos 70, foram criados os Clubes do Choro, revelando novos conjuntos de todo o país.

 

Hoje temos como principais expressões do Choro nomes como Paulinho da Viola, Paulo Moura, Hamilton de Holanda, Hélio Delmiro, Turíbio Santos e também os conjuntos que mantêm em atividade essa manifestação instrumental popular que os grandes centros urbanos do Brasil produziram e produzem.

 

No Espírito Santo o ritmo sempre encontrou seu espaço na música capixaba e temos grupos com longas jornadas como o Regional do Seu Chiquinho, Ferrabras, H2O, Carne de Gato, Corta Jaca, Choro da Ilha, Chorões da Ilha, Regional Chorinho da Praia, e tantos outros que lutam pela cultura capixaba.

Fontes:

– Entrevistas com os personagens
– Página Regional do Seu Chiquinho Saudades, no Facebook – administrada por Dulce Lodi.
– Livro – A História da Barra do Jucu – Homero Bonadiman Galveas

Equipe do Projeto:

– Coordenador Geral: Ricardo Vereza Lodi
– Produção: Sebastião Rodrigues
– Redação: Jornalista Marina Filetti
– Designer, Editor Geral e Coordenador de Comunicação: Carlos Magno Receputi de Queiroz